A primeira parte do meu corpo que desperta é o ouvido. Escuto a melodia harmoniosa do despertador que, com gentileza, se mescla ao sonho e me conduz à realidade. Meus músculos acordam e, enquanto se espreguiçam, me levam para mais perto do celular. Num ato de resistência, abro um olho só e espio a tela: 5h30. Ainda tá cedo.
Fecho os olhos e me entrego aos próximos dez minutos de soneca, tanto os meus quanto os do aparelho.
Ouço uma melodia. É o alarme de novo. Dessa vez, abro os dois olhos, pego o celular e diminuo o brilho da tela, que dormiu alto porque eu tenho o terrível hábito de adormecer assistindo. Por algum motivo, tenho medo de dormir sozinha. Ler isso pode parecer estranho, né? Afinal, se você me conhece, sabe que eu sou casada há mais de sete anos. Algumas ficções supõem que casais felizes dormem todo dia de conchinha, mas, na vida real, casais que se respeitam é que são felizes, mesmo que durmam em horários diferentes.
Rafa sempre faz um chá depois do banho, pega o iPad, os livros de arte, os cadernos, o estojo e senta no sofá. Ali, ele começa a estudar, desenhar e criar. Esse momento é precioso, e eu jamais tiraria isso dele.
Afinal, acredito que todos precisamos de um instante único no dia que nos desperte.
Um tempo que nos conduza a explorar, estudar, meditar ou até mesmo nos permitir o ócio. Essa é a hora em que o escritor escreve, o leitor lê, o pintor pinta, o palhaço faz o sorriso nascer.
Um tempo em que arregaçamos as mangas, abrimos a imaginação e nos aproximamos de realizar nossas aspirações.
Um tempo para sermos quem devemos ser — ou descobrirmos quem somos ou queremos ser.
Esse tempo, resgatado do meio da exaustão das nossas obrigações (como esse que usei para escrever este texto), é o que nos ajuda a não enterrar, mas usar e multiplicar nossos talentos.
Ele nos ajuda a realizar nossos sonhos. Não só os sonhos de ter, mas, primeiro, os sonhos de ser.
E o tempo do Rafa é à noite, enquanto o meu é de manhã.
PS: faz um tempão que eu não posto uma crônica, senti falta de publicar esses textos mais autorais com reflexões que eu carrego dentro da mente. Elas vão voltar a sair do meu caderno e ganhar os seus olhos, e espero que também ganhem o seu coração.
PS2: Gostou do texto? Me conte qual é ou compartilhe a sua parte favorita? Vou adorar saber.
pro moção e pra mocinha:
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Gostei da sua forma de retratar meu singelo momento de descompressão. :)
Sinto muita falta desses espaços enquanto a bebê ainda é pequena. A escrita fica confinada a blocos de notas de celular. A expectativa de editar em paz quase nunca chega. E vamos deixando para depois, depois. Vamos nos dissolvendo na vida daquele outro que geramos até nos perguntarmos: onde eu me perdi? Junto os pedaços e procuro espaços no hoje para ser. Hoje consegui aqui. Obrigada pela crônica e por me dar esperanças de que quando minha filha crescer, vou voltar a acordar com o despertador. Amém.