A mais elevada forma de criatividade.
uma carta cheia de vida, referências e propósito.
Domingo eu tive um Dia das Mães diferente; ao invés de focar em mim, dei destaque1 a uma causa que merecia mais atenção. Mais de dez mil pessoas foram impactadas pelo meu texto (se você foi um dos que compartilharam, muito obrigada). Elas puderam sentir o que eu senti e abrir os ouvidos para ouvir quem não teve alcance na voz para gritar sozinho.
Viver esse momento me lembrou de outro tempo, a época em que eu fazia missões. Conectei-me novamente com a Samyra que foi para Foz, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Fortaleza e Cabo Verde levar arte, amor e humor ao mundo do outro.
Desde que entendi que só quando estamos abertos ao outro é que encontramos cura, decidi desamarrar um pouco a cara amarrada e me conectar com todos os que aparecerem no meu caminho.
Se você é um leitor fiel, sabe que eu sempre digo que: escrever para o outro me cura.
Quando a maternidade chegou, achei que ser mãe (atípica) era a minha única missão. Aceitei a minha cruz, a abracei, a beijei e ainda a carrego todos os dias, mas semana passada entendi que eu ainda posso ir além do meu lar, quando vou através das palavras.
A palavra não é só o meu ganha-pão, é também a minha vocação.
Ela registra, guarda, perpetua e expande as verdades que importam.Por isso, é latente que quem tenha olhos para ler, leia.
Quem tenha ouvidos para ouvir, ouça.
E quem tiver palavras para escrever, escreva.
O seu trabalho pode ser até mecânico na maior parte do tempo mas você não é uma máquina. É importante para a nossa concepção de nós mesmos que tudo o que fizermos tenha as nossas digitais. E um conselho que eu ouvi uma vez, guardei e passo para você é: não trabalhe em algo — ou de forma — que vá te fazer se amar menos. Qualquer trabalho que seja esse.
Assistindo o Filme Dias Perfeitos2 esse conselho ganhou vida através da observação da vida do personagem principal Hirayama. O centro da narrativa é a rotina diária, enquanto ele dando tudo de si no seu trabalho corriqueiro de lavar os banheiros de Tóquio, e cumpria as suas tarefas com ordem e compromisso encontrando prazer em “estar presente no que faz”.
Como diz São Josemaria Escrivá: "Faz o que deves e está no que fazes."
A presença é um desafio atual; os jovens de hoje em dia ( Geração Z) criaram uma "nova gíria" e eu me sinto com 89 anos após escrever a frase anterior que é dizer que "tem o perfil de personalidade NPC3". Esse termo de definição é algo triste de ouvir porque dizer isso significa que eles não têm personalidade, que apenas reagem ao que lhes é imposto pela vida com pouco envolvimento. Eu penso quantos deles não enterrarão os seus talentos? E me pergunto quantos de nós já não enterramos?4
Quincy Jones5, em seu livro "12 Notas sobre a vida e a criatividade" (que eu terminei de ler na segunda-feira), com a sua bagagem de vida e legado, deixou uma ótima reflexão que eu quero compartilhar com você:
"Estar vivo e presente no dia a dia é a mais elevada forma de criatividade.
(...) Dedique toda a sua atenção à vida. Reserve um momento para apreciar os detalhes aparentemente insignificantes que você negligenciou: da sensação de receber um abraço caloroso de um amigo que você não encontra há anos à simplicidade de poder pensar e agir segundo os seus pensamentos.(...)
Eu digo que você pode optar por usar o que tem ou perder o que tem; eu escolhi a primeira opção.
Eu sempre recebo no meu Direct mensagens de pessoas com a seguinte aflição: “Samy, eu não sou criativo(a). Ainda acha que posso escrever bem/ ser um bom copywriter ?”
E eu entendo que essa questão está embasada num um mito que ronda a criatividade, que é a caricatura de um criativo com um gênio, tendo “insights” quase que paranormais sendo genial enquanto respira. Mas o Ser Criativo não poderia estar mais distante disso. Ser Criativo tem como definição mais crua:
Ser capaz de imaginar, inventar e realizar algo.
Portanto, se você pode imaginar e cumprir o que foi anteriormente idealizado, sim você pode criar. E eu acredito que todos nós, humanos, somos dotados dessa habilidade.
Agora, é verdade que para alcançar um patamar mais refinado na criatividade você terá que adotar uma vida com práticas criativas e um trabalho constante de exercitar o raciocínio criativo. Poucos nascem “gênios” nessa matéria; e a maioria das figuras que nós consideramos gênios se esforçaram muito antes de ganharem notoriedade.
Mas existe um nível simples e profundo de começar a aguçar o ato criativo, e ele é fortalecer o nosso estado de presença, bem como citou Quincy, fazer o exercício de ser mais consciente. E mais uma vez, todos nós somos capazes de encarar a vida nesse estado e tornar tudo ao nosso redor, de fato, mais vivo.
Se você quer começar a trazer mais presença e despertar a sua consciência para deixar de viver como um morto-vivo, você pode acordar hoje (e se já está acordado, pode ficar ainda mais desperto) fazendo o seguinte exercício:
1- Separe uma folha, uma caneta e um cronômetro.
2- Escreva por no mínimo 10 minutos o "por que você faz o que faz"
Exemplo:
Por que eu escrevo?
Por que eu desenho?
Por que eu faço design?
Por que eu edito vídeos?
Por que eu quero ser criativo?
Nem todos os motivos são dignos de prêmio Nobel, mas o que importa é que são verdadeiros e compreender isso é o primeiro passo para que você faça o seu trabalho com consciência e propósito (e eu sei que falar isso hoje em dia ficou brega, mas aqui eu usei a palavra honrando o significado dela).
E para te inspirar, termino compartilhando a resposta do Quincy e sua sabedoria de quem escreveu o livro com 89 anos:
Por que eu faço o que faço?
Faço tudo pela família, para espalhar esperança e amor com minha criatividade e, quem sabe, causar um impacto positivo na vida daqueles que encontro pelo caminho. Se você ainda não encontrou a sua resposta, não espere um acidente estranho ou um contato com a morte para começar a pensar no assunto.
Eu já fiz esse exercício e não foi nada fácil, mas me ajudou a ter mais consciência de quem eu sou e o que eu faço enquanto exercito o meu Ser Criativo. Mas sobre isso eu compartilho em outra carta (se vocês quiserem).
Um abraço e até a próxima trama.
Ah! Veja uma novidade no ps!
Apesar da minha demora em ler essa beldade, veio no momento certo. Há alguns dias tenho pensado mais sobre o quanto de presença e consciência tenho vivido. Anotando agora mesmo o exercício para o próximo momento de escrita. Muito obrigada Samy!