Achei esse bilhete nas entrelinhas
Dona Vírgula,
Eu sei que a senhora não faz por mal, mas estou cansado dessa situação.
Toda vez que surge uma oração nova, você sempre acha que precisa aparecer.
E, embora sinta que o assunto é sempre com você, ele não é.
Viu? Ali era, porque, como aqui é uma explicação, mas no começo deste parágrafo já não era mais e eu sei que você coçou toda para aparecer no lugar da interrogação.
Acho que a senhora está com o vício de se meter em tudo quanto é lugar.
Faça-me o favor de se conter ou teremos maiores problemas.
Ponto Final.
Bastidores de criação:
Esse texto é um apólogo.
Quando eu o escrevi em setembro de 2023, não sabia o que era um apólogo; mas descobri que é uma narrativa em prosa ou verso em que seres inanimados conversam.
Ele surgiu como um desabafo.
Eu criei a newsletter OFM em setembro de 2023, e me forcei a desenvolver melhor a escrita para além dos caracteres do Instagram, e com isso comecei a perceber os diversos vícios que eu tinha, e também o que me faltava desenvolver.
O meu problema com a vírgula é que ou a usava “de mais”, ou “de menos”. Eu parecia temer o ponto final. Então, conversando comigo mesma enquanto revisava um texto, encontrei esse bilhete nas entrelinhas e resolvi ler em voz alta para alinhar as coisas entre eles, promover a paz e me liberar para usar as demais pontuações necessárias, sem ressentimentos.
Escrever é encarar as nossas falhas, não só as linguísticas, mas também as linguísticas.
Não há vergonha em melhorar; há vergonha em manter o erro intocado como se fosse certo.
Adorei! Muito bem escrito como sempre.
Incrível